HÁBITOS que moldam quem somos: A CHAVE para uma RECUPERAÇÃO REAL e CONSISTENTE!
SUPERAR
Rafa Pessato
3/19/2025
“Reinventar-se inteiramente é impossível: o contorno dessas margens, o terreno de que são feitas está estabelecido. Trazemos uma chancela na alma – mas podemos redefinir seus limites. Quem sabe mudamos as cores aqui, ali abrimos uma clareira e erguemos um abrigo”. (Lya Luft, 2009)
Recuperar-se de um vício não é apenas trocar um hábito por outro. Se fosse assim tão simples, bastaria substituir o copo de álcool por uma xícara de chá e tudo estaria resolvido. Mas qualquer um que já tentou sabe que não funciona desse jeito. A mudança real acontece quando, além de modificar hábitos, reconstruímos nossa identidade. Não se trata de negar quem se foi, mas de descobrir – ou criar – quem se pode ser.
HÁBITOS: AS ENGRENAGENS DO NOSSO EU
Nosso cérebro adora hábitos porque eles economizam energia. Uma vez que algo se torna automático, não precisamos gastar tanto esforço para decidir o que fazer. Isso vale para escovar os dentes, dirigir, e, infelizmente, para padrões destrutivos como o consumo excessivo de álcool.
Mudar um hábito exige mais do que força de vontade. Exige que entendamos o que ele significa para nós. O álcool não é só o álcool – é a pausa no dia, é o alívio da dor, é o silêncio do ruído interno. Quando tentamos mudar o comportamento sem tocar no significado por trás dele, a mudança fica frágil.
IDENTIDADE: O ESPELHO INTERNO QUE MOLDA NOSSAS ESCOLHAS
Muitas vezes, pensamos: “Preciso parar de beber.” Mas a pergunta mais poderosa é: “Quem eu quero ser?”.
A neurociência nos mostra que as nossas ações são guiadas pela nossa autoimagem. Se você se vê como alguém fraco, fadado ao fracasso, qualquer tentativa de mudança parecerá artificial. Mas se você começa a se enxergar como alguém capaz, resiliente, digno de uma vida melhor, então as novas escolhas fazem sentido.
Um estudo publicado na Journal of Personality and Social Psychology mostrou que quando as pessoas internalizam uma nova identidade – por exemplo, em vez de dizer “estou tentando parar de fumar”, dizer “eu não sou fumante” –, as chances de mudança aumentam significativamente. A identidade tem um poder transformador.
A TRANSIÇÃO ENTRE QUEM VOCÊ FOI E QUEM PODE SER
No começo da recuperação, há um vácuo. Você não é mais quem costumava ser, mas também ainda não sabe quem está se tornando. Isso é desconfortável. O cérebro resiste, pedindo para voltar ao que é familiar. Mas esse espaço é exatamente onde a transformação acontece.
Aqui vão algumas práticas para ajudar nessa transição:
1. Escreva sua nova narrativa
Não se trata de inventar uma história falsa sobre si mesmo, mas de se abrir para outras versões suas que estavam adormecidas. Pergunte-se:
• Que tipo de pessoa eu quero ser?
• O que essa pessoa faz no dia a dia?
• Como ela lida com desafios?
A escrita terapêutica pode ser um espelho poderoso. Quando você coloca no papel a pessoa que deseja ser, começa a encontrá-la dentro de si.
2. Cerque-se de novas referências
Se seu ambiente social reforça sua identidade antiga, a mudança se torna mais difícil. Não significa abandonar amigos ou família, mas buscar novos espaços e interações que alimentem a pessoa que você está se tornando.
3. Pratique pequenos rituais diários
Hábitos são formados pela repetição. Pequenos rituais podem ancorar a nova identidade. Pode ser algo simples como caminhar ao amanhecer, escrever um diário, ou preparar um café especial pela manhã. A constância dessas ações ajuda o cérebro a registrar: “Esse é o meu novo eu.”
4. Abrace a imperfeição
A mudança não é linear. Às vezes, haverá recaídas, dúvidas e dias difíceis. Mas isso não significa fracasso. Significa que você está humano. A identidade não se constrói com perfeição, mas com persistência.
VOCÊ NÃO ESTÁ MASCARANDO, ESTÁ FORMULANDO
Há quem diga que a recuperação é um processo de “voltar a ser quem era antes do vício”. Mas e se, na verdade, for uma oportunidade para ser alguém que você nunca teve a chance de ser?
Lya Luft escreveu que há algo em nós difícil de mudar, mas que, ainda assim, temos escolhas. Não podemos apagar o passado, mas podemos decidir o que fazer com ele. A recuperação não é sobre fingir ser outra pessoa. É sobre dar-se a chance de descobrir versões suas que sempre existiram, esperando para serem vividas.
Então, ao invés de apenas mudar hábitos, experimente se formular. A diferença entre os dois pode ser o segredo para uma recuperação duradoura.