CRIAR É FLUIR: a arte como canal de prazer e expansão sem anestesia
FLUIR
Rafa Pessato
5/19/2025
Existem momentos em que a vida parece girar em torno de anestesias cotidianas: um gole para relaxar, uma distração para fugir, um ritual para esquecer. No entanto, há quem escolha um caminho diferente: a sobriedade. E, surpreendentemente, esse caminho não precisa ser uma trilha árida e sem cor. Pelo contrário, a ausência de anestesias pode abrir espaço para algo poderoso: a criação. Vamos falar sobre como a arte, em suas várias formas, pode ser um canal de prazer, expansão e autenticidade — sem a necessidade de fugir da realidade.
A CONEXÃO ENTRE SOBRIEDADE E CRIATIVIDADE
Ao se libertar de excessos, especialmente do álcool, muitas pessoas descobrem que suas mentes se tornam menos nebulosas e mais receptivas ao fluxo criativo. É como se a névoa que envolvia as ideias se dissipasse, permitindo que a imaginação se revelasse de maneira mais clara e genuína.
Historicamente, muitos artistas recorreram ao álcool e às drogas para acessar seus mundos interiores. Mas será que a criatividade precisa mesmo desse impulso artificial? A resposta está na experiência de quem se redescobre após o abandono dos excessos. A sobriedade proporciona um tipo diferente de prazer criativo — um prazer que nasce da conexão direta consigo mesmo, sem filtros ou distorções.
A ARTE COMO RESGATE DA AUTENTICIDADE
Criar enquanto sóbrio não é só um ato de expressão; é um retorno à essência. A liberdade de criar sem a interferência de substâncias traz um sentido de domínio sobre a própria narrativa. Se antes o álcool parecia ser a fonte de coragem para expor vulnerabilidades, agora o próprio processo artístico se torna o meio de encarar essas emoções. A criação se torna um canal para transformar experiências cruas em algo belo e significativo.
Escrever, pintar, compor... todas essas formas de arte têm o poder de canalizar angústias, anseios e alegrias de maneira visceral e verdadeira. Na ausência do álcool, é a própria vivência que se traduz em arte, sem máscaras ou muletas emocionais.
A ARTE QUE PULSA DA VIVÊNCIA
Ao substituir a busca de prazer efêmero pelo prazer criativo, a arte se transforma em uma espécie de redenção. A escrita terapêutica, por exemplo, permite que memórias difíceis sejam revisitadas e ressignificadas. A música pode traduzir a intensidade do processo de transformação. A pintura, com suas camadas de cores e texturas, reflete as fases da jornada interior.
Criar em sobriedade é viver intensamente cada detalhe, cada nuance. Não há apagões ou falhas de memória. O resultado é um acervo de criações que documentam a própria história, revelando um eu mais autêntico e conectado. E permitindo a criação de um repertório o qual fará parte de sua nova filosofia de vida.
A EXPANSÃO SEM ANESTESIA
A grande descoberta para quem escolhe a sobriedade é que o prazer não desaparece; ele se transforma. Em vez de ser induzido por um gole ou uma substância, o prazer agora flui da sensação de estar no controle da própria vida. A expansão não é uma fuga, mas um aprofundamento — uma imersão na própria existência.
Claro que o processo não é fácil. Há dias em que a vontade de fugir é imensa. Mas ao persistir no caminho da criação, o prazer artístico compensa qualquer desejo de retorno aos excessos. A prática constante da arte, com seus altos e baixos, fortalece a autonomia emocional e cria um repertório de conquistas pessoais.
ALÉM DISSO
Criar é fluir, e fluir é existir plenamente. A sobriedade, longe de ser um fardo, pode ser um caminho libertador e criativo. A arte, nesse contexto, não serve como anestesia, mas como canal de expansão, permitindo que a pessoa explore sua essência sem medo. Quando escolhemos criar em vez de anestesiar, descobrimos que a vida em si é a fonte inesgotável de inspiração.
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