AS FASES DA RECAÍDA NO ALCOOLISMO E COMO SUPERÁ-LAS COM CONSCIÊNCIA
SUPERAR
3/7/2025
Eu já recaí muitas vezes antes desses 7 anos abstêmia, e posso dizer: a recaída não começa no primeiro gole. Ela nasce como uma emoção, domina a mente, e quando menos se espera, chega às mãos. Como uma tempestade que se forma no horizonte antes de desabar em chuva, a recaída dá sinais. Mas será que estamos atentos a eles?
Se o alcoolismo é um labirinto, a sobriedade é um caminho que se faz com escolhas diárias. Nietzsche já dizia que todo pensamento profundo caminha com passos de pomba—quase imperceptível, mas constante. A recaída segue a mesma lógica, só que no sentido inverso: começa como um sussurro, uma ideia que se infiltra e cresce até se tornar ação.
Neste artigo, vamos mapear as fases da recaída e entender como interrompê-las antes que o ciclo se complete. Afinal, mais do que resistir ao álcool, o desafio é construir uma nova forma de existir.
A RECAÍDA EMOCIONAL: QUANDO O CORPO LEMBRA ANTES DA MENTE
O corpo tem memória. Quem já experimentou a abstinência sabe que ela não é apenas uma questão de vontade, mas também de química. O cérebro, viciado no ciclo do prazer e da recompensa, sente falta do álcool muito antes que a consciência perceba.
Neste estágio, não há pensamentos diretos sobre beber. Mas há irritação, ansiedade, insônia, fadiga e aquele cansaço existencial que parece não ter motivo. O corpo está em alerta, e o menor gatilho pode se transformar em uma desculpa para anestesiar-se.
Como evitar?
• Pratique a auto-observação: Como está sua energia? Você tem dormido bem? Se alimentado direito?
• Não subestime pequenas oscilações emocionais—elas são mensagens do corpo sobre o que está fora de equilíbrio.
• Respire. Literalmente. A respiração profunda ativa o nervo vago, trazendo um estado de calma para o sistema nervoso.
A RECAÍDA MENTAL: O DIÁLOGO INTERNO TRAIÇOEIRO
Aqui a mente começa a negociar. “Foi só um copo”, “Eu já estou bem, posso controlar”, “Todo mundo bebe, por que eu não posso?”. O pensamento racional, que sustentava a sobriedade, começa a enfraquecer. O desejo pelo álcool se transforma em justificativas.
Descartes dizia “Penso, logo existo”. Mas e quando o pensamento nos leva ao abismo? A mente, quando não treinada, pode se tornar nossa maior inimiga.
Como evitar?
• Reestruture os pensamentos: Ao notar um pensamento permissivo, questione-o. O que aconteceria se você bebesse agora? Como se sentiria amanhã?
• Mantenha registros: Anote pensamentos recorrentes. Muitas vezes, ao vê-los escritos, percebemos o quanto são armadilhas mentais.
• Tenha uma rede de apoio. A mente isolada se convence de qualquer coisa, mas quando externalizamos nossos pensamentos, ganhamos perspectivas diferentes.
A RECAÍDA FÍSICA: QUANDO A ESCOLHA SE TORNA AÇÃO
Este é o momento em que o pensamento vira comportamento. Pode ser ir a um bar “apenas para encontrar amigos”, passar na seção de bebidas do mercado “sem querer”, ou simplesmente ceder ao impulso e abrir uma garrafa.
A recaída física não é o fim do caminho—mas é um retorno ao ciclo do vício. E quanto mais cedo ela for interrompida, mais rápido a sobriedade pode ser restaurada.
Como evitar?
• Evite os gatilhos ambientais. Se certos lugares, pessoas ou situações aumentam seu risco, afaste-se sem culpa.
• Tenha um plano de emergência. Se sentir que está prestes a ceder, tenha alguém para ligar, um lugar seguro para ir, um ritual de resgate.
• Perdoe-se. Se houve uma recaída, a culpa não é o caminho. O que importa é o que você faz a partir daqui.
A RECAÍDA COMO APRENDIZADO
Nietzsche falava do “eterno retorno”—a ideia de que tudo o que vivemos pode se repetir infinitamente, a menos que mudemos nossa relação com o que nos acontece. Se a recaída se tornou um ciclo, é preciso quebrá-lo na raiz.
O alcoolismo não se vence com força bruta, mas com consciência. Compreender as fases da recaída é um bom passo para interromper o processo antes que ele se complete.
A sobriedade não é um estado definitivo, mas uma construção diária, a partir de uma decisão intencional. E, como toda construção, exige atenção aos sinais, reparos constantes e um compromisso profundo com a vida.
Se você está neste caminho, saiba: não está sozinho. E cada passo dado na direção certa é uma vitória que ninguém pode tirar de você.