A FORÇA DO “NÃO”: Como dizer não à bebida sem se sentir excluído
SUPERAR
Rafa Pessato
4/23/2025
Dizer “não” pra bebida pode parecer simples… mas quem já tentou de verdade sabe que, na prática, não é bem assim. Especialmente pra quem está enfrentando o alcoolismo, esse “não” carrega um peso enorme. Porque não é só negar um copo — às vezes é dizer “não” pra um amigo, pra uma roda de conversa, pra uma tradição de anos. E o mais difícil: dizer “não” pra si mesmo.
Esse texto é um convite à coragem. Um apoio pra quem tá tentando se manter firme, mesmo quando o ambiente não ajuda. Porque a gente sabe: o álcool é socialmente aceito, às vezes até incentivado. E recusar uma bebida pode parecer que você está “fora do jogo”. Mas não está. Você está, na verdade, mudando as regras.
QUANDO O “NÃO” PESA MAIS DO QUE O COPO
A nossa cultura empurra a ideia de que beber é sinônimo de se divertir, de ser sociável, de estar bem com a vida. E aí, quando você decide parar, começam os olhares tortos, os convites insistentes, os comentários do tipo “só uma não faz mal”.
Recusar pode até parecer um ataque pessoal pra quem ainda bebe — mas não é. Só que quem tá em recuperação sente na pele esse climão, essa sensação de exclusão. Um estudo da Journal of Substance Use (2017) mostrou que o medo de se sentir “de fora” é um dos principais motivos que levam as pessoas a voltarem a beber.
Mas o que muita gente não percebe é que, às vezes, a maior batalha não é com o outro. É com a gente mesmo.
A DESCULPA SOCIAL: QUANDO A GENTE ENGANA A SI MESMO
A verdade é que muitas vezes a gente diz que bebeu “pra não desagradar” os outros… mas, lá no fundo, era a vontade de beber que falou mais alto. Usar a pressão do ambiente como desculpa é mais fácil do que admitir que a gente ainda sente vontade, ainda sente falta, ainda sente o “chamado” da bebida.
E isso não é fraqueza. É humano.
Como diria Carl Jung:
“Aquilo que você resiste, persiste. Aquilo que você aceita, se transforma.”
Então não adianta brigar com a vontade. Melhor é reconhecer: “Eu ainda sinto vontade às vezes. Mas hoje eu escolho diferente.”
O MEDO DE DESAGRADAR VEM DE LONGE
A gente nasceu pra pertencer. Isso é biológico. Tem um estudo da UCLA (Eisenberger et al., 2003) que mostra que ser rejeitado ativa as mesmas áreas do cérebro da dor física. Ou seja, ser excluído dói mesmo.
Por isso, muita gente prefere ceder, beber junto, dizer “sim” — só pra não se sentir desconectado. O problema é que, pra agradar o outro, você acaba desagradando a si mesmo. E quando isso vira rotina, a bebida vira anestesia. Uma forma de escapar da frustração de não conseguir se impor.
DIZER “NÃO” É, NA REAL, DIZER “SIM” PRA VOCÊ
É aqui que a virada acontece. Quando você percebe que recusar a bebida não é se isolar — é se cuidar.
Pra facilitar esse processo, aqui vão algumas perguntas que você pode se fazer:
Por que eu quero dizer “não”?
Do que eu estou abrindo mão quando eu digo “sim” pra bebida?
Quem eu quero ser depois desse encontro, dessa festa, desse fim de semana?
Essas perguntas ajudam a clarear o seu “porquê”. E ele precisa estar vivo em você. Porque quando o “não” vem com consciência, ele vem mais firme. Menos culpa, mais certeza.
ALGUMAS DICAS PRA DIZER “NÃO” COM LEVEZA (E SEM NEURA)
1. Tenha uma resposta pronta
Evita aquele momento de hesitação. Pode ser algo como:
“Tô numa fase sem álcool, cuidando mais de mim.”
“Hoje não, amanhã quero estar 100%.”
“Valeu, mas tô bem com minha água com gás.”
2. Leve sua própria bebida
Já resolve metade do problema. Escolhe algo que você goste e que te faça sentir bem. O importante é você se sentir confortável — com o copo na mão e com a sua escolha.
3. Use o bom humor
Levar a situação com leveza quebra o gelo. Tipo: “Se eu tomar uma, vou querer dez. Melhor não abrir esse pacote!”
4. Combine com amigos de confiança
Se tiver alguém por perto que te apoie, melhor ainda. Ter um “aliado” num evento pode fazer toda a diferença.
5. Se precisar, vá embora
Sua saúde vale mais que qualquer festa. Se estiver difícil, se a pressão estiver insuportável, se afaste. Você não precisa provar nada pra ninguém.
E QUANDO O “NÃO” MAIS DIFÍCIL É PRA MIM?
Essa parte é delicada. Às vezes o problema nem é o ambiente, nem a festa. É o dia difícil, o tédio, a solidão, o estresse. E aí, o “não” mais desafiador é pra dentro.
Aqui vai uma sugestão prática: quando bater a vontade, antes de agir, pergunte-se:
O que eu tô sentindo agora?
Do que eu tô precisando de verdade?
Existe outra forma de aliviar isso sem beber?
Você pode escrever, caminhar, ligar pra alguém, ouvir uma música. Não é sobre “reprimir” a vontade. É sobre redirecionar. Porque você não é obrigado a obedecer ao impulso. Como dizia Viktor Frankl: “Entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está nossa liberdade.”
SEU “NÃO” É SEMENTE DE LIBERDADE
Você não precisa justificar sua escolha. Você não precisa beber pra se encaixar. E você não tá sozinho nessa caminhada.
Dizer “não” à bebida é, antes de tudo, um “sim” pra quem você está se tornando. E isso é lindo. É forte. É liberdade na prática.
Se alguém te faz sentir mal por se cuidar… talvez essa pessoa não mereça tanto espaço assim na sua vida. Mas acredite: tem gente do lado de cá, torcendo por você. Gente que entende. Gente que te vê.
E você merece estar inteiro — com ou sem copo na mão.